Saudade! Palavra que só existe na língua portuguesa. O que se encontra em outros idiomas, e que chega mais próximo se traduz por "Eu sinto sua falta!". Mas será que a saudade é só isso? Eu acho que a saudade é algo muito mais complexo do que simplesmente sentir faltar. Ela faz a gente pensar só nas coisas boas daquilo que sentimos SAUDADE, deixando de lado e esquecido as coisas ruins.

A 6 anos atrás eu tomei uma decisão que muitas pessoas talvez não tenham entendido e tenham achado um pouco egoísta de minha parte. Decidi não vistar meu avô (paterno) na UTI do hospital, e ele faleceu no dia seguinte. Mas eu tinha um motivo, e sempre que penso nele, sei que tomei a decisão certa. Eu queria guardar somente as lembranças boas que eu tinha dele, não queria ver ele internado. Também por que no fundo eu tinha esperanças de que ele pudesse voltar pra casa... Eu sonho com ele ás vezes, e nesses sonhos ele sempre conversa comigo.

Alguns são bem nítidos na minha memória, pois ocorreram em dias importantes para mim... quando ele faleceu (e ele veio me dizer que estava bem e feliz onde estava); no dia de minha formatura (que ele me mostrou em sonho que ele esteve lá durante todo a cerimônia de colação de grau); no dia do meu casamento (e ele me deu a benção dele); no dia que cheguei aqui na Dinamarca (e ele me disse várias coisas para me dar coragem pra viver isto aqui)...

Sei que tem gente já vai ter chorado até chegar por aqui (eu já chorei!), mas eu precisava falar sobre isso. Essa noite eu não conseguia pegar no sono (o marido tava roncando mais que serra elétrica), e eu me peguei pensando no meu avô! Aí pensei em vir aqui falar sobre a saudade que sinto dele e das lembranças que tenho... e quanto mais eu penso, mais vejo o quanto foi certa minha decisão anos atrás... pois na minha mente eu só tenho coisas boas...

...comer um monte de picolé e polenguinho na mercearia...

...brincar na balança da mercearia, pesando tomates...

...ir com ele no carro para a casa da minha avó, apostando corrida com meu irmão e me pai que iam em outro carro (às vezes ele diminuía pouco antes de chegarmos lá, pra eu ficar com medo de perder, e quando ele via meu pai chegando ele corria pra chegar na frente)...

...pegar o pente no armário debaixo da escada e sentar no encosto do sofá atrás dele e ficar um tempão penteando o cabelo dele (fazia uns penteados punks mó legal!!!)...

...usar a bengala e a bolinha de fisioterapia dele para jogar golfe (tentando acertar no porta guarda-chuva da minha vó)...

...quando ele operou para colocar marcapasso e eu ia direto da escola passar a tarde com ele pra minha vó poder ir pra casa tomar um banho, e eu acabava dormindo a tarde toda...

...a alegria dele sempre que eu cortava o cabelo curtinho, pois dizia que adorava ver meu pescoço de fora, pois era lindo...

...quando ele descascava laranja sem deixar a casca quebrar para eu brincar de jogar por cima da cabeça, e a letra que desse era a inicial do meu futuro marido (não me lembro de alguma vez ter saído um A)... 

...jantar com ele e comer salada e sopa de legumes...

...fazer guerra de água na cozinha com as garrafas de água de bolinha (água com gás) que ele trazia da mercearia (naquela época tinham um tipo de torneira - que nem pistolinha de mangueira - no bocal)... 

...sentar ao lado dele na cama e dizer que ele tava ficando jovem de novo, pois tinham uns fios de cabelo preto nascendo na cabeça dele...

...todo o incentivo e ajuda que ele me deu para eu começar e terminar a faculdade (sem esquecer de mencionar minha avó aqui tb)...

...brincar de cama-de-gato...

 ...reclamar do cheiro do "chiqueiro" toda vez que passávamos na frente "Palmeiras" (eu sou São Paulina e ele era Palmeirense "roxo")...

...o jeito que ele fazia "shasha" (cafuné) nas minhas costas...

...e tantas outras coisas boas...

Meu avo materno eu conheci só quando era bebê, e infelizmente não me lembro dele... o pouco que consigo lembrar de seu rosto, vi em fotos. É uma pena que não pude conhece-lo mais. Tô com muita saudade de todos, família, amigos, gato, peixe, sobrinha, comida (kkkkkk)... e acho que isso me deixa meio emotiva ás vezes...

Beijoquinhas Dinamarquesas cheias de saudade!!!!